
[conto e ilustração de Pablo Bernasconi, no livro belíssimo Excessos e Exageros, da editora GIRAFINHA]

Comecei minha vida como hei de acabá-la, sem dúvida: no meio dos livros.Darwin nos informou que somos primos dos macacos, e não dos anjos. Depois, ficamos sabendo que vínhamos da selva africana e que nenhuma cegonha nos tinha trazido de Paris. E não faz muito tempo ficamos sabendo que nossos genes são quase iguaizinhos aos genes dos ratos.
Já não sabemos se somos obras-primas de Deus ou piadas do Diabo. Nós, os humaninhos:
os exterminadores de tudo,
os caçadores do próximo,
os criadores da bomba atômica, da bomba de hidrogênio e da bomba de nêutrons, que é a mais saudável de todas porque liquida as pessoas, mas deixa as coisas intactas.
Os únicos animais que inventam máquinas,
os únicos que vivem ao serviço das máquinas que inventam,
Os únicos que devoram sua casa,
os únicos que envenenam a água que lhes dá de beber e a terra que lhes dá de comer;
os únicos capazes de alugar-se ou vender-se ou de alugar ou vender os seus semelhantes,
os únicos que matam por prazer,
os únicos que torturam,
os únicos que violam.
E também
os únicos que riem,
os únicos que sonham acordados,
os únicos que fazem seda da baba dos vermes,
os que convertem lixo em beleza,
os que descobrem cores que o arco-íris desconhece,
os que dão novas músicas às vozes do mundo
e criam palavras, para que não sejam mudas
nem a realidade nem sua memória.
[de Eduardo Galeano, no livro Espelhos - uma história quase universal]
"Existe uma mecha de barba que fica guardada no convento das freiras brancas nas montanhas distantes. Como chegou até o convento, ninguém sabe. Uns dizem que foram as freiras que enterraram o que sobrou do seu corpo já que ninguém mais se dispunha a nele tocar. Desconhece-se o motivo pelo qual as freiras iriam guardar uma relíquia dessa natureza, mas é verdade. Uma amiga de uma amiga minha viu com seus próprios olhos. Ela diz que a barba é azul, da cor do índigo para ser exata. É tão azul quanto o gelo escuro no lago, tão azul quanto a sombra de um buraco à noite. Essa barba pertenceu um dia a alguém de quem se dizia ser um mágico fracassado, um homem gigantesco com uma queda pelas mulheres, um homem conhecido pelo nome de Barba-azul.
Había una vez una hermosa ciudad.
Era uma vez uma Árvore que amava um menino.
Mas o tempo passou e o menino cresceu!
[de Shel Silvertein, Adaptado por Fernando Sabino, Editora Cosac Naify]
imagine um sentimento água. um sentimento árvore. uma agonia vidro. uma emoção céu. uma espera pedra. um amor manga. um colorido vento sul. um jeito casa de ser. uma forma líquida de pensar. uma vida paredes. uma existência mar. uma solidão cordilheira. uma alegria pássaro em chuva fina. uma perda corpo.
Há muito tempo, na China, vivia um menino chamado Ping, que adorava flores. Tudo o que ele plantava florescia maravilhosamente. Flores, arbustos e até imensas árvores frutíferas desabrochavam como por encanto.
Mude,

O filho de Pilar e Daniel Wainberg foi batizado à beira-mar.