![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2Ri51kx4S9vGhAamSWVGlAzv7k2Tn5O68Qa1UzyE0PwNubFxs5TXb0vtKx2BEdo7UoJkJnQc_LjoX5zIyYwsdGr_vl-jXR_JitXt_ZMYaD3s8QsHIb_KY4mOxRDlTOvUHxY9NgYue_b25/s200/frog-6.jpg)
Falava, em tom de sério, que o rio passava nas margens dela. Ora, o que se sabe, pelo bom senso, é que são as rãs que vivem nas margens dos rios. Mas aquela rã contou que estava estabelecida ali desde o começo do mundo. Bem antes do rio fazer leito e passar. E que, portanto, ela tinha a importância de chegar primeiro. Que ela era por todos os motivos primordial. E quem se faz primordial tem o condão das primazias.
Portanto era o rio Amazonas que passava por ela. Então, a partir desse raciocínio, ela a rã, tinha mais importância. Sendo que a importância de uma coisa ou de um ser não é tirada pelo tamanho ou volume do ser mas pela permanência do ser no lugar. Pela primazia. Por esse viés do primordial é possível dizer então que a pedra é mais importante que o homem. Por esse viés, com certeza, a rã não é uma criatura orgulhosa. Dou federação a ela. Assim como dou federação à garça quem teve um homem sentado na beira dela. As garças têm primazia.
(de Manoel de Barros, em Memórias Inventadas – A Infância)
2 comentários:
Gosto muito da poesia do Manoel de Barros, pai da minha amiga Martha Barros, que é artista plástica das mais sensíveis.
Valeu.
que bom! amo Manoel de Barros! e ela ilustra os livros dele... sao delicadissimas imagens. ;)
Postar um comentário