sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Dom da História

...

O amado Bal Shem Tov estava à morte e mandou chamar seus discípulos.

- Sempre fui o intermediário de vocês e agora, quando eu me for, vocês terão de fazer isso sozinhos. Vocês conhecem o lugar na floresta onde eu invoco a Deus? Fiquem parados naquele lugar e ajam do mesmo modo. Vocês sabem acender a fogueira e sabem dizer a oração. Façam tudo isso e Deus virá.

Depois que Bal Shem Tov morreu, a primeira geração obedeceu exatamente às suas instruções, e Deus sempre veio. Na segunda geração, porém, as pessoas já se haviam esquecido de como se acendia a fogueira do jeito que o Bal Shem Tov lhes ensinara. Mesmo assim, elas ficavam paradas no local especial na floresta, diziam a oração, e Deus vinha.

Na terceira geração, as pessoas já não se lembravam de como acender a fogueira, nem do local na floresta. Mas diziam a oração assim mesmo, e Deus ainda vinha.

Na quarta geração, ninguém se lembrava de como se acendia a fogueira, ninguém sabia mais que local  exatamente da floresta deveriam ficar e, finalmente, não conseguiam se recordar nem da própria oração. Mas uma pessoa ainda se lembrava da história sobre tudo aquilo e relatou com voz alta. E Deus ainda veio.

[de Clarissa Pinkola Estés, no livro o Dom da História: uma fábula sobre o que é suficiente - Editora Rocco, 1998]
Arte: Van Gogh.

notas:
Baal Shem significa Mestre do Nome.  

Baal Shem Tov significa Mestre do Divino Nome.
O Rabi Israel ben Eliezer ou Baal Shem Tov (1698 - 1760) possivelmente nasceu na Ucrânia, é fundador do hassidismo, movimento místico baseado na Cabala.



Meninos e Meninas, eu li:

O livrinho, pequeno mesmo, é tudo que um contador de histórias precisa saber - ele mesmo é o essencial! Não conta muitas histórias, apenas algumas, fundamentais. Mas todos os sentidos e sentimentos necessários a um contador de histórias, a um narrador, estão ali. A magia, o dom, a essência, a generosidade, a compreensão do outro, a boa vontade, a simplicidade, ... Feito livreto, desses que poetas vendem ou dão nas ruas, não dá conta da sua qualidade, pode enganar. Depois de Mulheres que correm com lobos, um tijolo bestseller, a autora se permite e nos permite o mínimo, o suficiente. Particularmente, essa é a minha história. Ouvi numa apresentação de teatro e nunca esqueci, busquei e anos depois a achei nesse livro. Reconto ao meu modo, mas a essência está lá e aqui. [por Lux]

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